quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Sobre o som e o silêncio


"No princípio, podemos supor, era o silêncio. Havia silêncio porque não havia movimento e, portanto, nenhuma vibração podia agitar o ar — um fenômeno de fundamental importância na produção do som. A criação do mundo, seja qual for a forma como ocorreu, deve ter sido acompanhada de movimento e, portanto, de som."

(O. Karay, 1990, p. 5)


   Perceber gestos e movimentos sob a forma de vibrações sonoras é parte de nossa integração com o mundo em que vivemos: ouvimos o barulho do mar, o vento soprando, as folhas balançando no coqueiro... ouvimos o bater de martelos, o ruído de máquinas, o motor de carros ou motos... o canto dos pássaros, o miado dos gatos, o toque do telefone ou o despertador... Ouvimos vozes e falas, poesia e música...

SOM é tudo o que soa! Tudo o que o ouvido percebe sob a forma de movimentos vibratórios. Os sons que nos cercam são expressões da vida, da energia, do universo em movimento e indicam situações, ambientes, paisagens sonoras* a natureza, os animais, os seres humanos e suas máquinas traduzem, também sonoramente, sua presença, seu "ser e estar", integrado ao todo orgânico e vivo deste planeta.

E o silêncio? Entendemos por silêncio a ausência de som, mas, na verdade, a ele correspondem os sons que já não podemos ouvir, ou seja, as vibrações que o nosso ouvido não percebe como uma onda, seja porque têm um movimento muito lento, seja porque são muito rápidas. Tudo vibra, em permanente movimento, mas nem toda vibração transforma-se em som para os nossos ouvidos! Com relação a esse aspecto, é importante lembrar que também a nossa escuta guia-se por limites impostos pela cultura, ou seja, o território do ouvir tem relação direta com os sons de nosso entorno, sejam eles musicais ou não. Isso explica, por exemplo, a nossa dificuldade de perceber e reproduzir os microtons presentes na música indiana. Os monges tibetanos, por sua vez, cantam sons extremamente graves que eles acreditam que promovem a sintonia com o som cósmicos, ainda mais grave, que eles afirmam escutar. 

Som e silêncio são partes de uma única coisa, e, nesse sentido, podemos dizer que são opostos complementares, conforme nos propõe Hans-Joachim Koellreutter: "O silêncio deve ser percebido como outro aspecto de um mesmo fenômeno, e não apenas como ausência de som".


Muitos dos mitos presentes nas culturas humanas atribuem ao som o poder da criação do universo. A busca do silêncio também nos remete, simbolicamente, ao início, à essência da criação, ao sopro da vida e, ao mesmo tempo, ao final, ou à morte.



*A expressão "paisagem sonora" foi criada peio compositor e educador canadense Murray Schafer para referir-se a todos os sons, de qualquer procedência, que fazem parte do ambiente sonoro de determinado lugar.

Fonte: Livro - Musica na educação infantil, proposta para a formação integral da criança. Editora Peiropolis, 2008 De Teca Alencar de Brito; pag. 17 e 18;

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ficou alguma duvida, pergunte aqui, tentarei ao máximo te ajudar; Comente e compartilhe conhecimentos com conosco.

linkwithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...